segunda-feira, 11 de junho de 2007

Segundos Sonhos


Teus pés vieram pelos sopés de minha cama, foi quando finalmente invadiste sorrateiramente o meu sono e apareceste sob forma de Sonho. “como foi? quem era? quem o trouxera?”, foi o que gerou a tua imagem apagada de dúvidas.

Pela manhã, boiando meu corpo, eu faço que conto os ventos em forma de dias e o que ele estabelece dentro de mim? O eco da tua ausência. “soubeste?” prolongava a minha voz até o vento “hoje eu também chorei tanto”. “sonhei que era hora de chuu-uutar! teu encalço” e ria num Sol nascente “e quando levantei, me disseram para que esperasse, que não era de ser agora”, recolhendo o Sol.

E andava, como andava! “minhas asas são feito borboletas, só funcionam alegres”, esperava que logo viesse minha alegria. E qual era a minha alegria se em todo percurso só havia uma permanência a partir do Sonho?

E como era água, e água era água como eu estava, eram só lágrimas no lago. Pensava “para onde agora?”. Você fora e não fora da minha espécie no Sonho, e desafiava meu sexo querendo fazer-lhe de seio e eu dizia não! num manto onde se escondem as tristezas e as vergonhas.

Espantava-me que você me quisesse mesmo assim. “Às vezes sou bela, bela para quem o acaso responde sorridentemente, e disse-lhe: ´escolheu-me?´”. São tantas dúvidas agindo por tantos e tantos caminhos. “aonde está você quando eu sonho deitada no lago e o Sonho não me segue?”.

Pensava! Já não penso mais assim, deixo o tempo escurecer as pálpebras revestidas. Foste tu que um dia disse que iria me encontrar, pois então acordar-me!
As margens em espelho bóiam eternamente os olhos dos esquecidos, fosse como fosse, não havia Sonho bom a mais do que lembrar de uma temporada de Sonhos.



Eram fadas, todas elas habitadas de fada de alguma forma, cada uma delas com seu jeito de usar e ter asas. Alguns as chamam de bichos porque esquecem dos espíritos que habitam nelas. E isso só porque os olhos só vêem as pequeninas-regredidas fadas e esquecem que ainda há outras criaturas que são mais novas e bochechudas que fadas de cristal.

Dizem que as fadas e os bichos não conhecem os Sonhos, pois eu digo que ambos, quando são habitados uma pelo outro, sonham e se conhecem ao sopé do Fauno. Sonham e acordam todas alegres, ainda que haja aquela fada distante e solitária na história, tristonha a querer entender o que acontece quando se acorda.

As belas fadas, que são espíritos de bichos, não precisam reportar ao Fado o que sonham, mas aquela levanta as orelhas de raposa perguntando: “onde estará o meu? quando ele vem para qu´u possa ser fada mais uma vez e possa voar?”. Mas o Fado cala-se quando as previsões são em questão de futuro.

Em seguida, irritado, rasga alguns bambus da terra e fala: “não estais tu no presente? pois porque não se acostuma a estar embaixo e pergunta sobre o Mundo?”. E os choros vêm. “Ah!” e suspira procurando vento “como posso viver assim tão desassossegada? prefiro que me cortem as asas antes que venham, quem sabe o que me espera se bem-não-o-vejo ao meu lado quando acordo”. “experimenta terminar com o Sonho e acordarás ainda mais desanuviada”, responde o deus.



Mas surge uma criatura irritante e repica sobre a ferida: “ah, eu já quase tenho asas, e como batem!”. E vem as outras formando um côro: “óh”. “sabes das minha?” parte a outra a engordar palavras “em tudo em mim há uma imensa vvooonnnn-tá-de de voar, mas sabes?” e encena um chôro “mas não vem do Mundo ninguém que enxugue asas de gaivota, então eu mergulho no fundo da água!”. E todas riem.

E enquanto todas elas a coram mais um grito em “óh”. E mais uma vez em desaprovação. “outro dia venho, e me pergunto, se sou fada ou sou galinha, porque sabe que galináceos não podem voar”, pois continua “e eu tenho medo de me estatelar”.

Ouvido isto o Fado aborrecido vêm e ancora-se no topo da árvore e soando o hino do povo adormecido.

escrito em agosto de 2003, reescrito em 2007
do Coisas de Sonho