Estranho e necessário que passado algum tempo verdades surgem retornando, uma a uma, à frente, a olhos vistos. Quem imaginaria que depois de quase oito anos fosse necessário falar sobre o passado?! Reviver antigos sentimentos; reavivar adormecidas emoções, quando o mais fácil, e, sem dúvida, o mais natural, é repousar assuntos antigos na gaveta da escrivaninha.
Torná-las, então, fábulas, como num passado já muito antigo; entretê-las, como temos feito com outras pessoas, dentro dos sonhos; desperdiçá-las, enquanto história constituinte no momento em que percebemos que, sim, nada de físico aconteceu.
Quem desejamos trazer à tona que aqui não está? Nós mesmos ou os outros? Que trajeto, obscurecidos por tantas outras razões, sentimentos e sensações que nos prenderam já diante do outro, retornaram? Qual a parede semitransparente que, uma vez lá, permite serem reveladas fatos e desejos como num confessionário?
A internet? A internet é muito pouco, daqui a algum tempo, talvez ainda quando nossos corpos se mantiverem quentes, terá passado como passou a invenção do rádio, do telefone, da lâmpada,...
Estamos falando tudo ou ainda sentimos vergonha?! Mas vergonha de quê se a parede e o anonimato, de tão poucos elos ligando trajetos de vida tão diferentes, inclusive por cidades, nos detêm como entre o sono e a vigília?
Ah, se um acelerador potente daqueles dos primeiros filmes sobre a Fórmula 1, com seus automóveis circulando velozmente em Mônaco, fosse possível para a relações humanas! O que estamos esperando? Nos encontrar para passarmos de flertes em frases descompromissadas, do tipo “já gostei de você”, para finalmente encararmos a realidade de um e outro e pensarmos que saberemos o que queremos? Ou nos entreter em círculos como fizemos desde o primeiro momento?
Que é da paixão que adormece e acorda com cabelos desgrenhados, sujeira nos olhos e vista embaçada, tateando as paredes? É o amor que se procura encontrar como num final de conto de fadas?
“Veja só, o rapaz é tão gentil com aquela gigante de voz introvertida e gestos da mão curtas...”, suspiram algumas figuras. “Aquele é um homem de verdade”, cochicham as latrinas que completam a orquestra de, provavelmente, um seriado da Disney. Com quais bichos atuaremos quando nos afetos antigos possuímos bocas, mas não vozes para dublarmos nós-figurados?
O que é a entrega na paixão a qual não realizaremos nunca, para talvez deixarmos vivas as fábulas? Querer te fazer gestos e gentilezas sem jamais completar o movimento; tapar gentilmente teus olhos, como num filme hollywoodiano, mas sem nunca realizar a cena final do beijo em que sobem os letreiros.
O que é esta farsa que chamamos intimamente de amor verdadeiro? Quem eu vou levar, já em horário tarde e cansada, de volta para casa apenas para poder suspirar sozinho depois, em desalento?
Tua mãe, então, montará qualquer coisa como um lanche, como se fôssemos apenas dois amigos do colegial, e eu encenarei alguma frase como “Não precisava!”.
A atmosfera poderia ser então redesenhada como naquele banco da universidade federal onde há flores adornando o encontro dos amantes, embora aqui não haja nada lascivo entre nós. Apenas olho e tenho a perfeita noção da beleza do teu corpo, me espanto com aquilo tudo estar na minha frente, ali, embora não faça nada para “não estragar”.
Desculpo de mim para mim dizendo que tens namorado, você se desculpa de si para si dizendo que tem namorado; e o que é mais importante a ser dito é que esse desejo não se realiza. Onde estará a carne entre esses dois personagens feitos de papel? O que é vivo se realiza vivendo.
Ai, que eu tenho tanta pressa de morrer! Imagino para mim um enorme grupo de quase-virgens chorando à beira do caixão, elogiando a beleza que não creio e os lamentos em todas entonações e sons. Peço, e repito, que não quero carpideiras e caixões. Joguem meu corpo numa vala funda!
Por acaso, não aparecerá alguém para me derrubar com um chute do caixão?! Parecerei eternamente este tipo de galã cigano? Que eu tenha um bom amigo nesta hora, que ele chute violentamente o caixão e eu sorria admirado, mesmo morto, porque o que resiste vivo é a ação.
Você me pede para voltar. Pensando em você, como também em tudo que acho belo e desejável em ti, penso em voltar imediatamente mesmo sem saber como.
Isto não é amor ou paixão, isso é flerte disfarçado de saudade! Nem eu e nem você, por mais que achemos bonito reviver esta farsa do amor perfeito, poderemos exigir que um represente o pedaço do outro neste espetáculo metafísico. Além de tudo, as fábulas, como as farsas, são sempre muito belas e felizes; embora este texto possa lhe parecer bonito, a realidade é que são elas.
Torná-las, então, fábulas, como num passado já muito antigo; entretê-las, como temos feito com outras pessoas, dentro dos sonhos; desperdiçá-las, enquanto história constituinte no momento em que percebemos que, sim, nada de físico aconteceu.
Quem desejamos trazer à tona que aqui não está? Nós mesmos ou os outros? Que trajeto, obscurecidos por tantas outras razões, sentimentos e sensações que nos prenderam já diante do outro, retornaram? Qual a parede semitransparente que, uma vez lá, permite serem reveladas fatos e desejos como num confessionário?
A internet? A internet é muito pouco, daqui a algum tempo, talvez ainda quando nossos corpos se mantiverem quentes, terá passado como passou a invenção do rádio, do telefone, da lâmpada,...
Estamos falando tudo ou ainda sentimos vergonha?! Mas vergonha de quê se a parede e o anonimato, de tão poucos elos ligando trajetos de vida tão diferentes, inclusive por cidades, nos detêm como entre o sono e a vigília?
Ah, se um acelerador potente daqueles dos primeiros filmes sobre a Fórmula 1, com seus automóveis circulando velozmente em Mônaco, fosse possível para a relações humanas! O que estamos esperando? Nos encontrar para passarmos de flertes em frases descompromissadas, do tipo “já gostei de você”, para finalmente encararmos a realidade de um e outro e pensarmos que saberemos o que queremos? Ou nos entreter em círculos como fizemos desde o primeiro momento?
Que é da paixão que adormece e acorda com cabelos desgrenhados, sujeira nos olhos e vista embaçada, tateando as paredes? É o amor que se procura encontrar como num final de conto de fadas?
“Veja só, o rapaz é tão gentil com aquela gigante de voz introvertida e gestos da mão curtas...”, suspiram algumas figuras. “Aquele é um homem de verdade”, cochicham as latrinas que completam a orquestra de, provavelmente, um seriado da Disney. Com quais bichos atuaremos quando nos afetos antigos possuímos bocas, mas não vozes para dublarmos nós-figurados?
O que é a entrega na paixão a qual não realizaremos nunca, para talvez deixarmos vivas as fábulas? Querer te fazer gestos e gentilezas sem jamais completar o movimento; tapar gentilmente teus olhos, como num filme hollywoodiano, mas sem nunca realizar a cena final do beijo em que sobem os letreiros.
O que é esta farsa que chamamos intimamente de amor verdadeiro? Quem eu vou levar, já em horário tarde e cansada, de volta para casa apenas para poder suspirar sozinho depois, em desalento?
Tua mãe, então, montará qualquer coisa como um lanche, como se fôssemos apenas dois amigos do colegial, e eu encenarei alguma frase como “Não precisava!”.
A atmosfera poderia ser então redesenhada como naquele banco da universidade federal onde há flores adornando o encontro dos amantes, embora aqui não haja nada lascivo entre nós. Apenas olho e tenho a perfeita noção da beleza do teu corpo, me espanto com aquilo tudo estar na minha frente, ali, embora não faça nada para “não estragar”.
Desculpo de mim para mim dizendo que tens namorado, você se desculpa de si para si dizendo que tem namorado; e o que é mais importante a ser dito é que esse desejo não se realiza. Onde estará a carne entre esses dois personagens feitos de papel? O que é vivo se realiza vivendo.
Ai, que eu tenho tanta pressa de morrer! Imagino para mim um enorme grupo de quase-virgens chorando à beira do caixão, elogiando a beleza que não creio e os lamentos em todas entonações e sons. Peço, e repito, que não quero carpideiras e caixões. Joguem meu corpo numa vala funda!
Por acaso, não aparecerá alguém para me derrubar com um chute do caixão?! Parecerei eternamente este tipo de galã cigano? Que eu tenha um bom amigo nesta hora, que ele chute violentamente o caixão e eu sorria admirado, mesmo morto, porque o que resiste vivo é a ação.
Você me pede para voltar. Pensando em você, como também em tudo que acho belo e desejável em ti, penso em voltar imediatamente mesmo sem saber como.
Isto não é amor ou paixão, isso é flerte disfarçado de saudade! Nem eu e nem você, por mais que achemos bonito reviver esta farsa do amor perfeito, poderemos exigir que um represente o pedaço do outro neste espetáculo metafísico. Além de tudo, as fábulas, como as farsas, são sempre muito belas e felizes; embora este texto possa lhe parecer bonito, a realidade é que são elas.